terça-feira, 25 de agosto de 2015

EM DEFESA DA CRIANÇA


A criança sempre foi alvo de preocupação por parte de pais e professores. Seja ela inquieta, barulhenta, agressiva, levada, desatenta ou qualquer outro adjetivo que vá significar uma possível desadaptação ao meio em que vive.  A criança é um ser tão especial que chama a atenção para si seja de um modo ou de outro.
Mas quem são essas crianças que estão sendo encaminhadas para um diagnóstico  psicopedagógico?  De onde surgiram tantos problemas, que de tão diversos, demandam verdadeira via crucis, muitas vezes com ponto de partida e sem ponto de chegada! Por que outras tantas nem chegam, ou chegam tarde demais? Como está sendo vivida a infância? Tenho tantas perguntas que nem sei o que pensar?
O fato é que a criança sofre! Sofre que nem gente grande! Sofre e nem sempre seu pranto é entendido! Sofre quando não aprende, sofre quando, cansada, é obrigada a ir à chata aula de inglês, sofre quando precisa enfrentar o frio para mais uma fatídica aula de natação. Sofre quando percorre os mais diversos consultórios, submetendo-se aos mais diversos procedimentos, tendo seu corpo manipulado, invadido, desrespeitado, sendo cobaias das práticas e das medicações pouco eficazes. Tem-se a impressão que a sua vida não lhe pertence, seu corpo vira objeto de investigação, sendo avaliado, julgado e muitas vezes condenado!
Penso que a infância hoje não é a mesma de meu tempo. Hoje em dia, criança tem infância? Tem tempo para ser criança? Para ser criança precisa-se de liberdade para viver intensamente seus “projetos”, espaço capaz de lhe propiciar a vivência da individualidade e experiências que lhe tragam desafios e desejos de superar-se!
Mas em nome da boa educação a criança padece levianamente dos desejos frustrados e insatisfeitos de seus pais, restando-lhe conformar-se, afinal seu discurso podem ser entendidos como rebeldia sendo passível de punição. A angústia, ansiedade, a raiva e a revolta vêm a ser respostas emocionais à frustração sentida por ter tido seu direito mais que legítimo negado: a manifestação de seu desejo!
Quantas vezes ouvi, horrorizada, pais dizerem que “criança não tem que querer”! A figura ameaçadora da família só colabora para cultivar a dor no coração pueril, fragilizando os laços afetivos que os legitimava como pessoas mais que significativas. Destituindo a criança do direito de marcar sua presença no mundo dissolve o prazer de estar nele e a aliena. Sem prazer e sem desejo, a vontade de explorar e absorver o mundo se perde, então ela deixa de produzir para reproduzir a vontade do outro. A criança que antes olhava ao seu redor cheia de planos, encantos e vontade, co-existe agora no mundo, sem seu viço, sem vontade e emocionalmente despreparada para lidar com os próprios sentimentos e com o outro.

O medo de perder o amor dos pais faz com que aceite os desejos impostos pela família. Claro que aceitar as vontades familiares se choca com as próprias vontades, e é muito difícil decidir pelas próprias quando se é tão pequeno e com precária capacidade de argumentação e interiorização. Mas a criança não se cala! Ainda bem! Ela vai vai dar um jeito de mostrar seu sofrimento, seja através de um comportamento inadequado, nas dificuldades de aprendizagem, no silêncio, etc. Importante é saber como nós, profissionais ou pais vamos interpretar. Tal como adulto, a criança sofre das mesmas sintomatologias quando se percebe angustiada e frustrada, e como resposta para o mal-estar sentido e para o seu alívio, parte para a ação (ataque ou fuga) como os descritos acima. Agora, quem realmente precisa de tratamento?
Um fato para mim é que a criança é ser incompreendido apesar das várias teses, vários compêndios, dos inúmeros livros publicados, dos diversos teóricos e autores a dissecar o universo infantil. Escreveram de tudo, sobre tudo, viraram do avesso a infância.Mas o que ainda não foi possível, apesar de tantas linhas, foi libertar a criança das armadilhas do narcisismo parental. Não nego que haja amor, nem repudio a educação que querem dar, pois acredito que as famílias fazem o que julgam ser o melhor. A questão é: melhor para quem?
Gosto tanto de criança que estou sempre disposta a ouvi-las. Adoro conversar com elas!. E me impressiono sempre com o que elas tem a me dizer! É tudo tão claro, objetivo, simples! O jeito como se colocam em suas ações revelam tanto de si mesma e com que surpresa ela me permite adentrar seu mundo! Sua capacidade imaginativa, inocente e criativa me faz ter saudade da minha infância. Lembro que eu sorria mais! Como a gente desiste de colorir o mundo e muitas vezes vemos os mundo com lentes de desgosto! 
Sua simplicidade é tão comovente e elas ficam surpresas quando me proponho a ouví-las! Criança gosta mais de falar que desenhar. Fala muito enquanto desenha! E como se revelam! Criança que prefere desenhar preterindo o discurso, alheia ao contato, não é coisa boa e não pode passar desapercebido. Criança é criança em qualquer parte do mundo e precisa ser respeitada em seus sentimentos e menos negligenciadas na atenção e cuidados! Criança é gente e tem desejos e vontades que são essenciais ao seu desenvolvimento. Compartilhe de suas idéias e fantasias, brinque e escute o que ela tem a dizer, com certeza você vai se surpreender! 
E antes que o tempo passe e você fique com a sensação que perdeu algo na vida dela, viva com ela de maneira intensa e verdadeira, aproveite para fortalecer os laços afetivos e reviver juntos a sua própria infância!  Boa sorte! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário