domingo, 9 de agosto de 2015

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA E A POSTURA DO PSICOPEDAGOGO/A


       A avaliação psicopedagógica é um dos momentos mais importantes da prática psicopedagógica. Este processo investigativo objetiva fazer um recorte de como a criança está "funcionando" naquele momento de sua vida, seja na área cognitiva, psicomotora, sócio-afetivo e linguagem. 

A maioria das queixas escolares está focada na leitura, escrita e matemática, mas o olhar investigativo psicopedagógico deve ser o de saber o que está por trás dessas dificuldades. É absolutamente imprescindível considerar os aspectos padrões para cada idade, lembrando que o diagnóstico só é útil se for visto como algo mais que simplesmente rotular e estigmatizar. 
              
           Devem-se manter duas linhas paralelas de raciocínio clínico: uma linha diagnóstica baseada numa cuidadosa descrição evolutiva dos sintomas e dados clínicos e outra linha, etiológica, que são informações fornecidas pela família, pela escola ou por outros profissionais envolvidos. De posse dessas informações, acrescidos da observação clínica do profissional em seus encontros com o pacientes, consegue-se uma formulação hipotética dos possíveis fatores que podem estar comprometendo o desempenho da criança nas várias esferas da sua vida.

            A habilidade clínica influencia bastante no resultado de um diagnóstico psicopedagógico. O olhar e a escuta do profissional faz toda diferença. A escuta não é só ouvir a demanda, vai mais além, significa apreender e compreender os sentimentos, o sofrimento, as expectativas e principalmente o não-dito (não revelado).  A escuta possibilita dar valor e sentido à palavra, envolve reflexão e está intimamente atrelada ao olhar (olhar que acolhe!).

            O mais importante é que a escuta seja livre de juízos, pré-julgamentos ou críticas. O paciente e sua família precisam se sentir acolhidos, para que se sintam seguros e encorajados a revelar-se. O posicionamento empático por parte do profissional, não qualificando nem desqualificando o discurso alheio é primordial para a construção de um vínculo afetivo positivo. 

              O momento da avaliação é único tanto para o profissional, quanto para a família e para o próprio paciente. O tipo vínculo estabelecido com as partes vai influenciar o manejo e o resultado. Dependendo do grau de envolvimento e comprometimento, se negativo, fica praticamente impossível chegar ao seu término, sendo mais sensato se valer da ética e suspender a avaliação e ou encaminhar para outro profissional. Mantendo a avaliação o resultado não será condizente com a verdade.
            
        Cautela é palavra de ordem quanto ao desejo de ajudar. Se o objetivo  e esforços é colaborar para a saúde física, saúde psíquica e sucesso acadêmico, ou ainda, ajudar pessoas a serem "socialmente", "culturalmente e moralmente ajustadas", faz-se muito necessário se atentar para o próprio poder de manipulação e imposição dos próprios valores e verdades, cujo risco é despotencializar o paciente, culpabilizar a família e responsabilizar os conteúdos e a metodologia escolar.  

             Outro momento importante é abandonar a imagem que o faz ser imprescindível para o cliente. Não se tem todo esse poder redentor e curativo que a família, por exemplo, acha que ele tem. O profissional pode não conseguir libertar as crianças de todos os seus problemas, nem conseguir com que a família ou a escola revejam suas contribuições para os comportamentos inadequados e/ou insucessos escolares. Importante conscientizar-se de que não detém a competência absoluta e que existem outros profissionais que podem ser melhores e mais experientes. Importante saber que nunca se terá a exclusividade sobre os pacientes!  
         
           O psicopedagogo deve facilitar a aliança entre seu lado saudável e o cliente, mas para isso necessita primeiro ter conhecimento de si, discernindo o que é seu e o que é do seu paciente, sempre com o objetivo de promover o desenvolvimento e a satisfação dos interesses de quem o procura, não os seus! Jung dizia que somente o profissional apaixonado e envolvido em sua própria vida conseguira ajudar seus pacientes a encontra-se e encontrar seus caminhos. Mais ainda, que o analista só pode dar a seus pacientes aquilo que possui.

              O psicopedagogo precisa ser autêntico, reconhecer seus limites e ser sensível ao sofrimento de quem o procura. Sair da posição de onipotência e  se colocar por inteiro na relação e no processo que se instaura. Carl Rogers confirma ao dizer que o profissional além de ser autêntico precisa ser capaz de se abandonar para compreender seu cliente.  

                O fato é que não é fácil está do lado cá, ser profissional da escuta, do olhar clínico e da palavra! Não é fácil sustentar uma posição que nos coloca o tempo todo dentro dos conflitos, dentro do sofrimento, nos desejos, na angústia alheia, e nada podemos fazer senão adotar uma postura de acolhimento, acreditar em nossa competência e zelar pela própria saúde mental através de supervisão e análise. 

             Não basta um vasto conhecimento teórico se a postura adotada distanciar o profissional de seu paciente! De que adianta medir o conhecimento adquirido, colocar um número para servir de rótulo, se não se consegue inferir como ele pensa, como se movimenta na busca de suas respostas e não regozija com seus erros! Se o profissional não conseguir se aproximar afetivamente de seu paciente, nada mais pode fazer por ele. 

                 "Psicopedagogia não é para quem quer, mas para quem pode" já dizia Maria Lucia Weiss, e eu concordo! É para quem pode se doar sem se perder, é para quem acolhe sem se misturar, é para quem sabe lutar por uma causa que não é a sua, para quem se permite caminhar junto e deixar que apenas o outro receba todos louros da vitória! Ser um profissional da psicopedagogia é ser ativo, inquisidor, criativo, justo, libertador. Que não se acomoda, busca mudanças tendo como ponto de partida si mesmo, com novas técnicas, pesquisas e atendimento humanizado e personalizado. 

                 O bom psicopedagogo torna-se capaz de ser o que é na medida que se aceita como indivíduo, com habilidade de (re)fazer ou (re)significar sua história, com capacidade de sensibilizar-se com os sentimentos do outro. Desse encontro com o outro, se reconhece sabedor de suas fraquezas e limites, percebendo-se finalmente como ser humano, não como um Deus!


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